São ridículas as lágrimas que não choramos
Aqui..nesta fictícia ficção da realidade
A nossa pele molha-se..enruga-se...e um pigmento de tempo cola-se a nós
As mãos..sempre as mãos..os calos..a falta de palavras para dizer que chega
Perguntamos ao olhos..às lágrimas...são tão ridículas as lágrimas que não choramos
Olhamos o céu..esse enorme receio de um azul infinito...
Basta... de procurar forma e motivos para viver
Chega ...de amar o que não podemos medir com a nossas mãos
Raros são os sorrisos que caem dos olhos
Pedaços de nada..euforias..lábios a que basta apenas um pouco de coragem
Dentro da cabeça giram mundos..carnes...realidades irreais
As vidas são frases..a rotina é um ardor de alma...
Continua..nunca te faltarão os limites nem a faca da cozinha
Nunca te sentirás só nas ruas desertas...
Viverás com a raridade da vida dentro de um corpo
Nas ruas agitam-se bandeiras...os dias gastam-se dentro da nossa pele
As primeiras páginas dos jornais falam de coisas absurdas..
A paz dentro de uma bomba...uma criança dentro de uma jaula
Um homem dentro de si
Deixa-te estar..e irás caindo em direcção a uma noite de chuva
A uma promessa de verão..a um refúgio que fica para além de todas as ilhas
Olhamos em volta e vemos como todos fogem de si
Uma e outra vez...amarfanhados...promissores..desencantados
E se um dia o dia não tivesse vinte e quatro horas?
Se cada um pudesse inventar as suas horas?
Talvez assim as ruas não ficassem desertas..nem o tempo se tornasse excessivo
E depois..talvez a nossa silhueta...pudesse gostar da chuva...