Sei que...
Os pássaros esmagam-se contra os espelhos
Decompôem-se em palavras
Voam no coração dos olhares
Que venha a chuva
Aclarar as marés e os lamentos
Enquanto os céus se erguem da terra
Como mãos pálidas...ofegantes
E as almas se roem
Na secura de um corpo solitário.
Sei que...
No sono das águas moram versos sólidos
Mas as plantas persistem em ser líquidos corais
Diluídas como lamentos triturados
Por moinhos de fantasia
E vem a chuva cair sobre o ventre da rua
Sombra piedosa que limpa os dias
Só então saberemos que tudo continua vivo
Que todas as coisas são cidades
E que as marés nos fitam com desdém
Límpidas marés de areias incomensuráveis
Altaneiros fogos queimando corações e saliva
Fogos feitos de um tempo passado
Feitos de lembranças e sólidos ais
Feitos com todas as coisas
De que nos separaremos um dia!