Onde a solidão se acoita...
Queria tanto que um pedaço de mim acordasse na lisura desta página
Que tudo o que é inexplicável escorresse pela agonia da terra
Que as pontes rolassem...que as águas esculpissem vozes nos rochedos
Que o mundo se inclinasse...e os dedos se enchessem de paisagens
Que os pântanos brilhassem nos olhos das paixões
E o mar fosse uma torre de marfim a sonhar brisas aladas
Se eu te chamasse erguerias os braços?
Se eu te dissesse que um barco é um caminho de vento...virias?
Não há praia que não ouça o chamamento das marés
Nem enxurrada que não se quebre de encontro ao teu peito florido
Desfaço-me em estrelas....invento apetites de imagens...bebo os ritmos das folhagens
Sei que as sombras da terra são frias..que as plumas têm porte altivo
E que o galope dos meus gestos é uma densa neblina
Sei...que os meus olhos voam felizes por fora do vento
Que dentro das grutas há densos planetas..rastos de tempo indizível
Sei que me arrasto pela espuma de um dia que se cola ao corpo
Que uma vertigem se desenrola perante as asas dos véus
Que o mundo se desequilibra sempre que um vazio se desprende de mim
Porém nas folhas da tarde vejo os espaços onde os braços giram
Onde a solidão se acoita...nesse caminho sem fim nem segredo
Presa... num corpo que rola pela colina do vazio.