Sempre a tecer dias
Olha para bem fundo de mim
Sou o Deus de um Absoluto inacabado
Sou a desobediência afundada num assombro
Sempre em trânsito
Pela loucura de tudo o que é efémero
Sempre a tecer dias
Que depois enterro em pequenos fragmentos
Assombros...lábios...solidões
Tudo se desmorona sobre mim
E tudo se quebra em mim
Tudo é um pequeno riacho correndo para o infinito
Tudo se esfuma num tempo despiedado...
Já não conto estrelas....
Nem acredito nas fábulas
Que usava como anéis encantados
E que já não enfeitam os meus dedos frios
Sou uma ave que canta com os olhos
Perdi a voz...numa inexistência rara
Sou uma lei imposta pelo destino
Embrulhado numa febre...serpenteante
Não procuro mais saber
Como o tempo lambe as mãos
Não procuro mais saber
Como se esquece tudo o que se esfuma
Já não me imito
Já não me curo com desprendimentos
Arqueio agora as minhas costas
Sob o peso de um retrato desbotado
Minguei...
Sou tal qual as nuvens negras
Que escondem partes de um céu incompleto
E...para desespero da urze e da giesta
Não quero conhecer a viagem que chega
Enfeitada com grinaldas
Sonhada por um momento arrebatado...
Fui proclamado proscrito
Porque abusei do desconhecido...
E agora...a minha alma áspera e absurda
Desassossega o dia
Equilibrando-se numa minguada linha
Que um tédio imenso santifica...