Serenidade
Vinhas feliz silenciosa e nua
Trazias contigo o coração insone...aceso
À tua volta o tempo ciciava por entre os rigores do inverno
Sabias que já não havia naufrágios
E o sal permanecia agarrado ao teu corpo
Também sabias das filas intermináveis de pessoas
Desejosas de abraçar o mundo
Sabias do luto e da transpiração das casas
Ventos longínquos traziam o aroma de trigos e amores profundos
Rudes tons desbotados pelas lembranças
Vinho e tempo juntos numa prece
Dormitas agora com a boca dourada pelos dias de sol
Como se fosses um navio acostado aos seios quentes da maresia
A tua parte obscura senta-se encolhida junto à borda dos dias
Cantilenas espreitam dos barcos encalhados
Secretos...como fantásticos fantasmas
E pensas nas cores e na lisura que cobre as pedras
Pensas nos xailes negros que gravitam em torno de uma insónia
És como um coração de jade acabado de se dar ao mundo
Distante …
Como um retrato arrumado na gaveta mais esconsa
Ainda és tu...ali...de pé...serena.
Poema publicado na antologia da Chiado Books - Entre o Sono e o Sonho Vol. XIV