Somos dois
Quero guardar na minha mão cerrada
Todos os momentos lindos
O rio...o mar ...a estrada
Os flamingos...
Quero ter para sempre
Essa lembrança do que somos
Até ao dia em que já não formos...dois
Mas apenas um...depois
Corpo em alma...alma em corpo...silêncio
Trote de vento em gelosia
Paz de corpo em harmonia
Dedos a escorregar pela face do tempo
Distância de memórias...que fomos
Que somos...que já não somos...
Efémero.
Lábios colados...respirar de noites
Esteiro de prata na noite
No cheiro dos nossos corpos
Palavras feitas de pele
Arrepiada...crestada...cinéfila
A dor da eternidade em cada sítio
O sentir de cada célula em cada veia
A teia...
Que tece a nossa vida...cumprida
A carne das horas...
A lâmina das demoras
Demoras-te? Demoro-me!
Em ti…
A conversa...o crer de seres minha
O crer de ser teu
O amor que corta o céu
A faca que atravessa a face do nosso medo
Degredo da carne...o corpo
A velhice anónima
Ainda seremos nós
Que um dia atravessaremos essa fome de sermos dois?
Ou respiraremos desassossego em todas as posições?
Ou calaremos nas mãos o absurdo de já não sermos?
Intocáveis...fantasmas...sobreviventes...crentes
Em nós...sempre…