Somos líricas presas do destino...
E vem um dia...e outro..e estamos suspensos na crucificação das nossas almas
Da cidade saem sorrisos...confissões de pedras sob o calor insuportável dos relógios
Quem sabe se o segredo da chuva mora num ninho de coruja
Quem sabe para onde escorrem as goteiras quando as certezas se tornam árvores
Vejo nas anémonas a poesia vazia das flores caídas
Vejo nos segredos a alma estonteante das folhas arrastadas pelo vento
Vejo a lua espetada no pontão salubre do cais..a apontar horizontes de Magalhães
A criar crisálidas impossíveis...a crucificar lâminas que rasgam as ilusórias estrias das casas
E os olhos enferrujam..as gaivotas embalam marés incógnitas
E nem dentro da nossa consciência...descobrimos os farrapos que nos cobrem a alma
Somos líricas presas do destino...somos a boca aberta da chuva
Somos a ruína antropomórfica de nós mesmos...somos o ontem e o depois
Como marinheiritos de cristal subimos a pulso os novelos desfiados dos dias
Até que dos areais se ergam pedaços de palcos débeis..desajeitados...
Como a fantasia que nos cobre a geometria assimétrica dos sonhos...