Sopro da alma
Como mortalhas de cinza que desvendam sonhos
As folhas caem fechadas...
Enquanto nós respiramos a derradeira espuma do granito...
Vejo o dia a acrescentar-se mim
Como se me forrasse de pássaros
E eu nada mais fosse que um simples fruto embrulhado em horas
Todos os dias renasço nas inumeráveis sombras que me cercam
Todos os dias acho que o meu olhar
Arredonda a chuva que cai na sonolência dos pátios
E vejo...aquele caminho minguado onde as folhas se tornam estéreis
Mas sei que é ali que as palavras repousam
Dentro da sua importância
E os meus olhos se aquecem
Na solidão das árvores que procuram o outono.
Os dias seguem como pálpebras de tempo transparente
E a superfície das coisas
É uma praia onde lentamente a distância absorve o que resta de mim.
Às vezes aponto para um lugar que fica acima do vento
Calado...sei que o meu corpo ocupa todo o espaço da minha sombra
E que o rumor do mar me trás todas as possibilidades
De me dispersar na espuma
Como se me afastasse das coisas sobrecarregadas de memórias
E os dias fossem vãos aromas encerrados em janelas
Leves...como inúteis sopros que escorrem da alma...