Sou levado pela corrente....
Não sei se diga que o homem é Deus
Não sei se diga que o homem é um escândalo de Deus
Não se diga que o homem é um louco liberto das grilhetas da razão
E que pode caminhar às arrecuas do tempo
Não sei se diga que a alma tem perfume...e a lama tem mãos...
E que a memória é carregada de ácidos suaves
E de sorrisos...e de elegâncias...e que tem os olhos fitos na avidez do prazer.
Celeste é o leite que temos que beber
Requintado é o sorriso que temos que sonhar
Fortificantes são as desilusões parecidas com a verdade.
Moribundas...moribundas são as suaves luzes do Universo...
que como fios de seda nos ligam ao seio materno da Vida
Existimos...fortes...ávidos...magoados...às vezes...
Mas também estendemos mãos às recepções calorosas do coração
Mas também libertamos odores amigos e ternura nos gestos
Mas também pintamos... crédulos templos ao ar livre
Sim! Templos ao ar livre...
Não esses templos a cheirar a mofo... onde se escondem os deuses empoeirados
Desses não precisamos...queremos deuses puros...
Que brinquem connosco ...que riam connosco...
Que sejam realmente irreais e tocáveis...que possam ser bebidos com prazer
Quisera eu ter um desses ternos e celestiais momentos de verdade
Algo como uma epifania requintada e existencial
Estivesse eu sentado à mesa do espírito
E beberia com avidez do seio das flores o néctar escorrente das almas sãs
Mas não...flutuo pela do margem do rio como uma flor aquática...
Sou levado pela corrente....perdi a minha raiz..agarrei-me ao meu caule....
Mas...tive o meu prémio...
Icei a minha vela...e agora navego em liberdade!