Talvez amanhã se cruzem os nossos caminhos
Repara como tudo gira num tempo microscópico
Num influxo de loucura esquecida
Repara como o teu nome esbarra no teu rosto
Como atravessa essa fissura de chão
Repara como esvoaçam as plantas
Enquanto o tempo apaga a chama dos corpos
Ouves os ruídos
Nervosas erecções de fumos demolidos
Madrugadas espalhadas pelos caminhos
Refrão de ruas imensas
Trapos gastos por corpos imóveis
Vivendo dentro de húmidos tempos
Rachados pela aspereza dos dias
Loucas línguas amputadas por esperas
Fumos assobiados...infiltrações de lixo
Na magia dos rostos reside a multiplicação da memória
Na madrugada estão as páginas
Que exalam o pegajoso cheiro do abandono
Dentes afiados invocam amores subtis
Plantas e espelhos desaparecem numa bebedeira
A cidade transformou-se num ciclo insuportável...ácido
Multiplicam-se os silêncios...explodem as esperas
As mãos espelham a libertação das ervas
Alguém segue o seu caminho
Alguém exclama surpresas nas ondulações das serpentes
Alguém esvoaça como fumos atlânticos
A América toca-nos nos rostos
Pernoita connosco em navios de absoluta desesperança
As tardes são caminhos sem direcção
Cansaços azulados...mortais travessias
Invocar os deuses de nada serve
A madrugada iluminará os troncos das árvores...
E nos caules das plantas surgirão buracos
Túneis onde pernoitarão seios metálicos
E os ascetas caminharão de cara voltada para o vento
Multiplicam-se os esquecimentos
Impassíveis e absolutos
Como faquires caminhando sobre vidros
Ou sobre casas destelhadas
Barcos de tédio assobiarão melodias de açucares
Ao cair da tarde as cores serão roxas
Depois ….pavões envelhecidos
Gritarão nomes de cósmicas fantasias
Gastas constelações cravam-se nos peitos esvoaçantes
Esperam pelos abandonados
Os que têm olhos humedecidos
Hoje já é tarde...
Talvez amanhã se cruzem os nossos caminhos!