Tempo de seda
Um dia parei diante de uma semente
Que vivia dentro de uns olhos misteriosos
Colhi esse brilho de flor como quem agarra uma água
Que envolve o ardor incomensurável do tempo
Era um dia de um branco límpido
Onde se misturavam estátuas de serpentes em fogo
Com floridos gelos que escorriam de uma caneta
Curvada sobre uma escrita purificadora
Era estranho ver o musgo a purificar os ossos
E o sono que amortalhava os astros
Colhia o tempo que descia das cascatas em flor
Era a transparência das alturas
Era o sangue dos céus
Que germinava num voo de olhos aquáticos
Eram as palmeiras que exalavam vinhos licorosos...
E as horas tinham o estranho odor do sangue em fúria
Sem sangue não há veias
Que desaguem em lagos onde o corpo se purifica
Sem sangue não há licores de alma rubra
Uma alma florida pelo prazer de ser apenas uma alma
Decorada com tecidos que ardem num tempo de seda.