Tempo ondulante
Escuto o precipitado piscar
De uns passos frementes
Escuto aquele amontoado
De sons proferidos em surdina
Sons abandonados nas ruínas de uma inquietação
Sons ausentes...
Sem tempo para vislumbrar desgostos
Sons desligados dos lugares...das vinganças...sórdidas
Sons totalmente falhos de vozes
Esquecidos da quietude silenciosa
Do tempo ondulante
Não há obscuridade na argila vermelha
De onde saem emanações de grotescas farsas
Não há curiosidade
No olhar pousado numa grandeza apagada
Tudo está permanentemente em declínio
Tudo decorre inutilmente
Como se fosse um desenho
Feito por serpentes desencantadas
Sobre amarrotadas bandeiras enxutas de vida
Não há regresso nem vozes acaloradas
Não há emanações misteriosas
Tudo é como uma vigília
De onde uma ingénua face se ausentou
Tudo é como uma angústia
Que segue num cortejo de poucas palavras
Como um jejum judaico
Ou um gorgolejar de ventos batidos pelas árvores
Onde penduramos saudades
Como achas para a lareira
Abrasando-as num ardor de fagulhas
Que desesperadas se erguem em risos incontroláveis
Ou como torrentes de pés descalços
Ou como venenos atiçados
Por espumas anquilosadas
Não há ânsia nem desprezo nesses dias
Há apenas uns belos olhos ofuscados
Que riem como se tivessem encontrado
Dentro de si …
Um pranto majestoso que os libertasse...