Tocar-te-ia se fosses uma giesta
Tens o veneno da chave falsa
Cometa sem luz que se prolonga na escuridão
Rosto de sulfúrica acidez...
Dormência de flor sem cheiro
Tétrica ironia despida de palavras
A tua silhueta não surge nos passeios
Em lado nenhum te procuro...tornei-me santo
Farto de afagar nevoeiros densos
Prefiro o silêncio das casas e dos jardins
Não sou o ladrão que te rouba o rumo
Tu não tens rumo
És fumo dissipado...uma alga
As palmeiras riem...eu olho-as
Compreendo-as...sei que são palmeiras...tu não
Não és uma palmeira
Não dormes como ela
Não tens o fulgor dela ...não és o oásis
É estranho como não cintilas
Como não tens zénite
És uma linha curva onde não habitam as flores
Cidade falsa...silêncio duvidoso
Cometa andrógino...deselegante
Tornar-te-ás água...liquefeita matéria
Não me olhes...
Sou o regresso de uma nebulosa
Um leito sem hálito...para ti não respiro
És a desinspiração dormente
O corredor subterrâneo que não vai a lado nenhum...
És a minha falta de paciência
O meu lume apagado
A imperfeição de uma imagem tépida
Será banal dizer que estou farto de ti?
Que não me consolas?
Que prefiro os sepulcros?
Cubro os meus dedos com giestas
Tocar-te-ia se fosses uma giesta
Mas és o meu abandono!