Tonalidades de outrora
É dentro da noite
Que se expia a preciosa dor encantada pelo poente
É dentro da noite
Que amaldiçoamos os dardos que nos ferem
Como se assim fôssemos capazes de dosear
As picadas que gemem no coração
Ou como se vomitássemos esse veneno
Que faz murchar as flores
Não há sabedoria
Que vença os picos intransponíveis
Nem a luz que cega
Nem a intuição de que somos apenas natureza
Sem mais encantos...que a natureza
Sem mais delírios vagos
Que uma joia no pescoço de uma mulher...
Gememos horizontes sobre mares
Que se afundam em doces marés
E pensamos que da luz
Virá aquele encantamento que levará o vazio
E que banhará para sempre
O interminável universo de doces amores
Pensamos que as flores são melancolias
Fetiches de mulheres...deliciosas ternuras
Abrimos o coração ao mistério
Que depois se afunda
Num êxtase de encantos sobrenaturais
Tememos o inexprimível gemido
Que o infinito irradia como uma afronta
Ou como uma preciosidade sem limite de valor
Porque nunca saberemos quanto vale a eternidade
Nem o mais intenso sentimento...
Somos deliciosamente infantis
Cruelmente duplos...melancolicamente insanos
Porque sabemos que o presente
É uma ferida dolorosa
Uma bolha prestes a rebentar
E que dos nossos gritos
Serão apenas guinadas nos dias...e nas noites
Em que aflitos...de olhar perdido
Procuramos a imagem que restolha noutra noite
Noutro navio encalhado...noutro desespero sem fim
Como se fosse uma paisagem
Cheia de folhas empurradas por recordações
De um tempo mais alto
De um tempo mais próprio
De um mundo menos vão...
Onde os reflexos do sol
Nos encandeavam os cabelos
Com tonalidades de outrora...