Translúcida rua
Digo-te que antes de ti a cor dos dias
Se afundava num desenho sem sentido
Que as manhãs eram neblinas espessas
Onde se enclausurava o tempo
Sólido túnel onde se decompunha o meu coração
Alameda de inverno
Que sob a abóbada azul onde me sentava
Se enchia de folhas amarelecidas
E depois de te olhar
Vi-te como se vestisses um manto transparente
Numa sala apinhada de recordações
Volumosas recordações...fotografias exaustas
Como se estivesse junto a uma maré diáfana
O meu rosto viajou encostado à vidraça
Vi-te passar...
Vestias umas asas esplendorosas
Suave seda envolta em sono...
Olhei...e reparei que a rua estava vazia
Translúcida rua onde perdi o teu rasto
E perguntei: que faço eu agora com estes olhos?
Que convite posso fazer à solidão?
Desfaço-me em mil cores
Ignoro o que aconteceu
Mas o fim da tarde trouxe-me de volta ao sonho!