Tudo funcionava perfeitamente
O tempo passava
Numa alvura de febre inexplicada
Os anos preocupados discorriam
Sobre as prendas que dariam aos dias
E imprudentes melodias surgiam nos pés descalços
A hilaridade foi lograda pela neve rosa de Novembro
E os magníficos bosques
Apresentavam fendas abertas para o céu
Serenamente a lua cintilava
Enfeitiçada pelas aves negras
E as sombras caíam das árvores
Varridas pelo frio glacial
As horas submergiram-se nas lâmpadas eléctricas
Gastas e rugosas como é o que é velho
Os espíritos absorveram conversas animadas de tédio
Vertendo para os cálices o seu Porto Vintage
Homens de braços curtos
Esculpiram sapatos de pedra
E calçaram luvas amarrotadas
Junto à meia-noite duvidosa
Mágicas temperaturas exerciam pressão
Sobre os cabelos entrelaçados
E mágicas esperas absorviam a inércia
Em lareiras de pedra fumegante
A inconsciência manuseava livros
Habituados ao silêncio
E perante as explicações pacientes
Das mesas desocupadas
Escoavam-se poliglotas retóricas
Sobre romances fleumáticos
As pessoas circulavam de mão em mão
Como Invernos filosóficos
E a combustão das distrações
Gerava uma onda de teatro alugado
Que o amor físico lastimava
Como se fosse uma doutrina chegada do céu
Brutalmente o furor apossou-se das camas e dos lençóis
Como se os cabelos castanhos
Usassem unhas loiras
E fosse obrigatório passarem a noite
Na profundidade da planície
Para que a pureza dos sofrimentos
Fosse honrada pela anatomia dos navios
Que sublinhavam de boca escancarada
A erudição balofa dos diamantes
A vida inconsciente e fúnebre
Sofria de mistérios e não sabia quem era
E o sistema nervoso negou ao cérebro
A passagem para animal inferior
Tudo funcionava perfeitamente!