Um homem a tentar vestir um tempo apertado no coração
Quis voltar a pisar a terra do lugar onde cresci
Como um fantasma andei por ali
Porque já ninguém sabe quem sou
Partiram os amigos que a infância
E as circunstâncias juntaram naquele bairro
Mas ainda os vejo …
Mesmo agora pontapeio a bola com eles
No campo de futebol improvisado
E rodeado de oliveiras.
Ainda conheço cada uma daquelas oliveiras
Soterradas pelo cimento que agora veste o tijolo das casas.
Fechei-me angustiado por reviver aqueles pedaços da memória
Aquela alegria infantil...a liberdade...
Na angústia ninguém nos vale
É como uma companhia...é a solidão do tempo passado
É como a rodagem de um filme encerrado em nós...
Na mesma rua passam agora outras pessoas
Eu... estou a viajar no tempo...mas ao contrário...
Rejuvesneço...sou agora um miúdo num corpo de meia idade
Um extraterrestre de que ninguém desconfia
Um homem a vestir um tempo antigo...esfarrapado...
Um homem a tentar consertar esse tempo...
Como um conforto para a alma...
Um homem a tentar vestir um tempo apertado no coração
Como um andrajo que já não lhe serve.