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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Um peito uma alma e uma ânsia.

Seguia pela rua e pensava em quem seria ele amanhã. Ou depois de amanhã. Ou dali a alguns anos. Sabia que podia ser qualquer coisa. Missionário descalço na beira-mar. Consciência de sol. Açafrão. Cosmos. Som de palavra. Força motriz do espanto. Podia ser o alicerce plantado na escuridão. A íntima fome do viajante. Ele podia ser o eco a letra a chama. O sofá mutilado. A banalidade do dia. Podia ser o desenho que ganhou vida. A prateleira onde desfiam as memórias. O lado positivo da paixão. Caminhava e não sabia explicar o que já fora. A memória era uma distância. Uma contagem de crepúsculos. Um diapositivo de espuma. Mas quem seria ele? Uma ilha? Uma sala? Um projecto? Podia também ser uma paixão. O balido de um instante. O caminho errado ou o erro divertido. Podia ser uma febre. Fazer parte do mundo. O eco seco da queda de uma folha. A vertente de uma falésia solitária. Mas era difícil saber quem era. Ou quem seria. Réu de si. Vaivém de beijo ou ilharga de pluma. Podia ser a métrica da palavra. A dor no peito. A lascívia da pedra. O mundo é uma brisa que gira. Ele era o mundo que gira na brisa. Sentia a fulgurante necessidade de saber de si. De saber que as suas crateras eram apenas recordações de um tempo colado a si. Ele era a colagem de si. O recorte de si. Ele era apenas um peito uma alma e uma ânsia.

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