Um pouco de etnografia...
Os malhos estão preparados junto à eira,(vejam o pormenor da inscrição na pedra).
O centeio, doravante chamado de "pão" porque era e é assim que os naturais desta aldeia lhe chamam, uma vez que todo o pão que antigamente comiam era de feito de centeio.
Começou o malhar do pão. Ao centro o homem mais velho da aldeia, (90 anos), ainda orienta os trabalhos. reparem no pormenor do lenço vermelho que alguns trazem ao pescoço, esse lenço obtém-se pela destreza no uso do malho. É assim algo como uma medalha.
Depois do pão do malhar do pão, fazem-se os nagalhos, (palha atada em forma de corda que depois servia para atar os molhos da palha e de colmo), antigamente não se usavam cordas, tudo era aproveitado.
Aqui vemos um molho de palha a ser atado com um nagalho. Esta palha tinha duas utilidades, uma era de alimentar as cabras, (esta aldeia chegou a ter mais de duas mil cabras) no inverno, a outra era a sua utilização para encher os colchões. Os aldeãos todos os anos tinham um colchão novo, de palha...claro.
À palha que não estava quebrada pelos malhos, passava a chamar-se colmo, (é a palha que está nos braços do Sr. J.B. (o mais velho da aldeia), em primeiro plano do lado esquerdo. O colmo servia para cobrir os telhados dos currais onde se resguardavam as cabras. E não chovia lá dentro.
Depois de apanhada a palha e separado o colmo fica o grão.
Agora há que varrer a eira para juntar o grão.
Esta é a pá que vai separar o grãos dos resquícios de palha que ainda existem.Perto dela as vassouras feita com ramos de giestas.
Para que isso aconteça, atira-se o grão ao ar e o vento faz a sua parte. Os grãos como são mais pesados caem na eira. A palha é levada pelo vento. E assim se separa o pão da palha.
Ao terminar o malhar do pão, coloca-se um molho de centeio sobre uma pedra que indica que ainda ali se respeita a tradição. E ali fica até ao próximo ano.
Ao lado da pedra da eira há um hotel pata insectos.
Mas o percurso do pão continua. O passo seguinte era a moagem do pão. que se fazia nesta azenha.Infelizmente estava fechada e a pessoa que possuía a chave não estava. Mesmo assim podemos ver a calha por onde corre a água que faz mover as mós de pedra que tranformam o grão em farinha.
Ao lado da azenha temos o forno comunitário,(que já não é o original mas que é igual, apenas foi deslocado), mas que serve perfeitamente para ajudar a completar este ciclo do pão.
Entrada para o forno.
O forno,( foto sem qualidade,( é daquelas burrices que há vezes fazemos,quer dizer, fotografamos e não verificamos a qualidade), enfim, não podia esconder-me por detrás de uma má foto e não a publicar.
O belo pão de centeio.
Por fim, o meu agradecimento a toda esta irmandade que me deixou sentar na sua mesa e comer das suas iguarias,(não estão aqui todos). Perguntei a um dos organizadores, (todos os anos isto é feito em honra da sua história e dos seus antepassados), porque é que não publicitavam isto, certamente que muita gente apreciaria desfrutar deste recordar a história. Respondeu-me que não querem ali turistas para tirar fotos e publicar nas redes sociais. Querem pessoas que sintam a aldeia e que estejam em comunhão com a sua história. Para minha glória, em boa hora passei por ali, a calcorrear as serras e os caminhos ancestrais daquele vale, e já lá vão seis anos que estagio ali a minha alma durante uma semana.
É que esta aldeia é feita de gente granítica...que recebe com o coração.