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folhasdeluar

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Um pouco mais de ti...e florescerás.

Desloco o meu olhar pelas coisas usando passos de centopeia. Não sei o que procuro e muito menos o que procurar. Talvez um sentimento ressequido ou um sulco no espelho. Sou uma personagem abstracta...queimada pela necessidade de descobrir o mundo desabitado das abstracções. Não sei exactamente que cegueira é a minha. Percorro um caminho que é um longo e ineficaz corredor. Abro o correio. Olho a mosca que voa na sala e que freneticamente esbarra na janela. Olho a parede onde uma reprodução de Paula Rego me mostra a mestria e a resiliência das mulheres. Surpreendo-me a pensar em pressentimentos. Muito embora desconheça o que são pressentimentos. Serão as badaladas do meu coração? Ou a sensação de andar às apalpadelas pelas sombras dos sentimentos?

 

Olho para quem não me compreende. Passo por quem não me compreende. Mas também que sei eu dos outros? Que compreensão tenho da sua vida de morcegos sempre à procura dos insectos que lhes infectam a vida? Nada! E é assim que sou feliz. Incapaz de ser outro que é sempre outro e mais outro e ainda mais... nenhum outro.

 

Esquece a imagem. Esquece o momento em que aprendeste a ler. Esquece a comunicação verbal. Esta só serve para atenuar a imagem que não tens de ti.

 

Tudo é breve. Tudo reside na estética do silêncio. A falta de ar é a falta de comunicação. Perder o silêncio é o mesmo que inventar um drama. O teu semelhante é aquele que te cita filosofias tiradas do google? Esquece o teu semelhante!

 

Tu armas a cama onde as almas de novo se comprimem”, escreveu Celan. Não armes a cama. Não comprimas alma. Esborracha os tétricos caminhos da obsessão. Um pouco mais de ti...e florescerás.