Um ridículo embaraço
O caixão avançava sem vida
Pela rua dos marginais
Os acólitos... de rostos pontiagudos
Vagueavam agarrados ao turíbulo
Espalhando incenso pela periferia dos nus
Compreendi que os sorrisos ossudos
Gargalhavam fórmulas consagradas
E que o caixão reluzente
Projectava um ridículo embaraço nos passantes
Todos tinham o seu lugar no cortejo
O sol...a solenidade...e as caras pálidas
Os beiços...os narizes... os apaixonados
E as perguntas idiotas
Cada ângulo do silêncio era uma bofetada
Um esconderijo sacrossanto
Havia qualquer coisa no ar
E não era o cheiro a sal
Porque o que chegava até ali
Era uma chaga insossa
Um peso de terra vazia
Toda a gente comentava
Que os campos levam às colinas
E que os caixões
São o meio de transporte para os céus
E todos se alegraram
Afinal..quem não gostaria de fazer caretas a Deus?
Quem não gostaria de se esconder debaixo de um insecto?
E...como uma paixão profunda
Lá seguia aquele pobre apaixonado
Carregado de flores
Como um pobre sem sombra
Encerrado numa verdade...
Que lhe dizia...que é difícil acreditar
Que há silêncio na luz
E paz na irrealidade...