Uma luz irónica
Sento-me num tosco banco de pedra
À beira do precipício
Não sinto necessidade de nada
Nem da falsa simpatia bela e calma
Nem das coisa profundas...que não entendo
Estou só...e não me queixo da pura ironia
Gosto dela...como-a como a um fruto pensado
Tem um sabor insignificante como o destino
Uma grandeza gratuita
Um cheiro silencioso a inconsciência.
A anemia que me toldava os sentidos
E que era como uma névoa a cobrir-me de sarcasmo
Fugiu...irritada e pálida
Perante o sagrado espectáculo da natureza
Afoguei então o meu prazer no ilimitado horizonte
Vacilei entre o riso e as lágrimas
Saudei silenciosamente a graciosidade do rouxinol
E... a minha alma puída...
Encantou-se pelo mais insignificante raio de sol.
As pedras sonolentas espreguiçaram-se com volúpia
Perante o Reino do verde e das sombras profundas
Esqueci o embrutecimento da cidade decadente
Dos prazeres afixados em cartaz
Dos editais cronológicos
Que evocam o pasmo dos livres-pensadores
Chegado ao cansaço
Compradas as alegrias na loja mais próxima
Tirados alguns momentos ao delírio
Vem Satã aconchegar-se aos meus pés
Queixa-se de Deus que não quer brincar com ele
Porque Deus não brinca
É apenas uma luz irónica ao cair da tarde....