Valerá a pena saber de ti?
Pergunto-me se valerá a pena saber de ti?
Ou da tua morada
Da sombra dos teus cabelos riscando o chão
De aspirar a tua alma como um fumo suave
Esgueiro-me agora por existências de granulados dias
Sou a sombra da luz que apagaste
Escuro quarto...mãos aflitas
Atalhos de cânticos que não escuto
Pisaste o meu chão e partiste
Durmo numa alma desprovida de sentido
Cama feita no vazio
Olhos descalços...peito que inventa o teu rosto
Já não sou a luz dos dias escuros
Olhos espalhados sobre um nostálgico amanhecer
Invento o clarão dos teus passos
Digo que o tempo não te apagará
Digo tantas coisas...
Vejo os meus braços cruzados
Sobre uma algazarra de tempos vazios
Não quero emergir do meu cadafalso
Quero esconder o meu corpo numa toca de chacal
Quero conhecer todos os recantos dos poços
Ter os olhos vermelhos...a pele vermelha
Ser um gregário atalho de mim
Não sei porque quero ser assim
Acuso-me de nunca ter visto os olhares vazios
As cabeças inclinadas...as pálpebras vencidas
Sou a minha própria acusação
Sou a minha pele e o meu osso
A cabeça do acaso...um atalho indistinto
Mas acho que tudo vale a pena...invento fotografias
Risco o vazio...desenho-me
Vergo-me ao império das aves de rapina
Sedutor subterrâneo desfigurado
Semeio deuses em todo o lado
Sem mar ou chão onde eu balance
Sou a indefesa cinza
Onde sangram ruínas de deveres embriagados
Convicções de lençóis desalinhados
Chão semeado de papoilas vermelhas
Agitação de plumas ásperas
Máscara derradeira...
E pergunto-me se valerá a pena saber de ti?