Vazio
Finas partículas de tempo acumulam-se em nós. Finas partículas de pó acumulam-se nas estantes onde repousam fotografias. Pó e frio. Asséptico hospício das alamedas onde caminham cinzentos deveres. Divino seria o mundo se não desaparecesse na perfeita assincronia dos homens. Se não lhes trouxesse o pavor nem os levasse a mundos onde apodrecem os corpos. E onde as interrogações são ventos de silêncio. A aplacar a ira dos espelhos. Ferozes espelhos que cortam esperanças. Excessivos espelhos que mostram a realidade de um fogo que nos queima. Vale-nos o grito...e a leveza das inquietações. Vale-nos a nossa própria miséria de seres longínquos... e a marítima faina espelhada num mar sideral. Um mar onde inventamos o balanço do corpo...cansado de marear.
E o frio. E o súbito murchar das flores. Esse frio acondicionado nas nossa tragédias. E essas flores cujas pétalas enfeitam os espaços em branco da nossa vida. Como se fossem surdas ao nosso marulhar. Porque nos ocultamos por detrás de vidraças onde o medo é um espaço velado. A acenar a um céu liquefeito. Para onde olhamos e negamos a nossa incompreensão de termos o vazio na mão. E não sabermos o que fazer dele.