Vazios
Que esperamos nós junto ao lago coalhado no nevoeiro suave do silêncio
No imutável desejo de sermos espera e sonho
Copiamos vazios com a nossa alma geométrica
Tossimos a vida como quem faz dela um livro
Um livro que seguramos na nossa mão extenuada...suada...desalinhada
Esfacelados por um vento que ofusca as pálpebras
Por uma transparência que fere o nosso olhar parado no universo
E as silvas a crescerem nos nossos corredores
A amarinharem pelos nossos corpos flácidos
Como cios de asfalto amargo...intransponível
Bebemos a reprodução efémera da dor...como uma tosse que arde no peito em fogo
Nos sonhos gravamos a nossa passagem...a nossa hora de sermos matéria-prima
Reflexo de obscuro jardim...seiva de palavra atenta...
Lambendo os cardos oceânicos da solidão
No vazio das paisagens...no labor das constelações...no sangue das cidades
Na amálgama do espelho celeste...
Há uma porta feita com a cartilagem das árvores
Onde gravamos o perfume amargo do nosso corpo.