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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Vento

Quando o vento se comprime no espasmo das águas

Como uma hidrogenia de átomos confusos...como uma fuga de astro alcoólico

A pele enrosca-se numa melancolia de cassiopeia metalizada

As mãos estreitam-se dentro de um instante que se move no bafio dos tectos

Translúcidos repentes apelam aos olhos das algas

Para que os seixos se multipliquem pela leveza do nevoeiro

E os lumes arrefeçam nas enxárcias das árvores

As aves levantam voo ao mesmo tempo que as lágrimas

O espaço é cortado em pedaços...as sombras acalentam os desajeitados

E há uns olhos mornos que se dissimulam na superfície da pele

Uma cor e outra cor que chega impelida pela sofreguidão das vozes

Um espasmo de mulher que foge à sujeição das praias

O mar alto..tão alto como a Torre de Babel a desdobrar-se em altares de nevoeiro

Rostos invisíveis...olhos invisíveis...

Interiores de homens invisíveis a derreter-se pela superfície dos espelhos

Percebo o ritmo das sombras no rosto dos mareantes

Percebo as recônditas paragens do corpo...percebo a largura das palavras

Percebo o derradeiro esforço de ser uma pedra fechada ao amanhecer

E essa horizontal maresia que reclama pela rosácea do grito

Diz-me que por vezes...nascemos dentro de um destino de mar solto ao sol

Inevitável apoplexia de mosteiro desolado

Jazigo de tempo tumular...vital cadência de morte confusa

Estável garça que se senta no tempo do futuro

Como uma raiva despedaçada pela névoa da distância

Como uma pele de nenúfar enrugado

Ocidental...acidental crepúsculo de navio

A cruzar a cinza deambulante das hortênsias

A florir no umbral do fogo...a olhar o chão que pisa o poeta

Que dorme no seu inverno de punhos levantados ...às palavras.