Vestimos as memórias
Vestimos as memórias com fissuras de poucas palavras..lisas palavras
Dissemos que a noite ardia nos corpos derramados sobre o rio
Procurámos um espaço no tempo para saltar de folha em folha
Como poeira arrastada pelas margens...
Fizemos estalar o nosso nome sobre os anos do silêncio
Feliz era o tempo em que as minhas mãos alcançavam os poros da noite
E a humidade lacrimosa da aragem tecia estrelas na nossa pele
Desenhámos espaços e escalámos sonetos...
Fomos a primeira árvore que dormiu na plenitude do átomo
E fomos também a fonte que abre a porta ao que ainda não sabíamos
A linha da costa desapareceu com as chuvas...o coração despedaçou o choro das tardes
Eróticos répteis agarravam-se à nossa idade..intactos silêncios cresciam nas flores
Deixa que me perca nas coisas simples..a noite quer voltar ao exílio das crianças
A noite quer transformar o coração em palavras..
A noite quer escrever na neblina sem nome..quer atear nela os fogos de julho
Não sei nada das coisas que cantam melancólicos amores
De vez em quando..visito as calosidades da infância..subo ao meu rosto antigo
Com a vã esperança de ser um astro que não se perdeu
Nada atenua a verdadeira idade das horas sonolentas
Perdidos os momentos em que o céu se riscou com os cometas
Desaparecemos no frio dos sem regresso...
E os nossos passos fecham-se como conchas ...
Sobre a solidão...