Véu azul...
Véu azul...translúcido espaço a quebrar-se de encontro à liberdade das aves
Sonhei que as margens do rio se precipitavam num manto de espuma
Sonhei que do chão se ergueu um arco-íris de anémonas
E que da cegueira absoluta do amor se construiu uma vida
Como quem beija a côncava alma do vazio.
Na indecisão das horas decifro os impulsos do tempo
Ergo-me num pranto de esperas e deslumbramento
Sei que me divido em pequenas peças de mim
Sei que dispersarei pelas colinas da tarde
Como uma brisa que paira sobre o infinito.
Não penso na memória dos céus nem no canto dos poemas
Mas penso na espuma da memória que profanou a orla do tempo.
Entre dois tempos caminhei
Desfiz a manhã em múltiplos espaços
Parei...quando a luz do sol me apalpou o rosto
E tudo se tornou tão simples...
Agora sei que um lençol de seda me espera no azul do vento
Agora sei que uma febre de rosas me despertará do sabor acre dos dias
Como se um caminhasse em direcção a uma porta entreaberta
Onde uma pura imagem da sombra me espera...