Vieram olhos ter comigo
Vieram olhos ter comigo e eu acreditei nos vidros que brilhavam como lâminas
Fechei-os numa violência de erva amassada...contaminei a seiva...
Ardi na foto a preto e branco...as luzes pararam...a aranha teceu o nosso esconderijo..
Fui um fogo acorrentado às tuas mãos...intrigas de vulva molhada...incompreensíveis
Fechei os olhos...confiei nos sinais expostos nas paredes esburacadas..
Tacteei-me como um relógio parado caminhando entre os mortos...percorri distâncias
Amadureci como um prisioneiro em erupção...atento aos invisíveis labirintos do coração
Escondi-me na foto inexplicável...lupanar de gaivotas em decomposição...
Sépia sagrada que caminha pela cidade suada...amargura de quarto acorrentado...
E o cimento...é sempre o cimento que temos que esgravatar...até gastar as unhas suadas
Na noite correm baratas pelos cantos da casa...soalho empedernido...
Estremece com os passos aflitos...a moldura foge...os mortos esvaem-se em cal ardente
O trabalho será feito pela terra...e nós devoraremos os ventres coalhados de mel...
Abelhas em fuga suicida...fome de corpos escondidos nos arbustos...
Gatafunhos de pólens cicatrizados...quero fugir...ser um rochedo ressequido...
Inchar como um coralino precipício...ser a minha própria vontade...
Beber a minha própria sombra..desaguar numa costa ofuscada por sangue marítimo
Subo a duna vazia...espreito o infinito imóvel...estrelas ofuscantes miram-me...estou só!